Lisbon revisited
a descer do Saldanha...
"Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Príncipe Real
Feira da Cotovia, sugestão lecool...
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
o meu Magritte pessoal...
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...
Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...
fui ao cinema...aqui!
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.
Terreiro
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?"
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Lisbon revisited, Álvaro de Campos (1926)
(desconstruído por mim)
ps. os meus olhos, as palavras de outro!
uma certeza: vou voltar!
"Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Príncipe Real
Feira da Cotovia, sugestão lecool...
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
o meu Magritte pessoal...
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...
Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...
fui ao cinema...aqui!
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.
Terreiro
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?"
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Lisbon revisited, Álvaro de Campos (1926)
(desconstruído por mim)
ps. os meus olhos, as palavras de outro!
uma certeza: vou voltar!
29 Comments:
Voltei a ler este poema de Álvaro de Campos como que pela primeira vez...
Fim-de-semana bem intenso menina Amie!
Beijinhos.
ai que saudades, e eu aqui tão perto...
beijinhos amie
Ficou muito interessante ver este poema ilustrado pelas tuas fotos.
Linda, linda, linda!! Obrigada por me matares, por um instante, um pouquinho da saudade! Beijos :)
Lindo. Que ricas viagens que tu fazes. Ai que saudades de Lisboa e de Portugal :)
Dentro de 1 mês tou no alentejo e algarve, weeeee
Que fotos mais lindas!
Beijinhos
Amie,
estou a ver que além de fotografar também sabes desconstruir ;)
Parabéns, uma belissima foto-reportagem!!
É verdade, apenas aquela foto do estádio de alvalade está "desenquadrada", eheh
esse primeiro é perto do marquês de pombal, não é?
já me detive por várias vezes frente a esse edifício. é lindo!
Lisboaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa :))
Bj
---
Amie... era um post para toda a gente!
As palavras foram muito bem adequadas à foto-reportagem. É pena que não se possa ver as fotografias em maiores dimensões.
Um abraço.
Ola Amie...
Hum...como sabem bem umas boas fotos com um texto ainda melhor a acompanhar!
Obrigada!!!
=)
Amie,
é sempre bom ir pela tua mão visitar ou revisitar cidades... adoro a luz de Lisboa, quase tanto como amo o nevoeiro do Porto!
bjo
passa pela cantina para fotos sobre Barcelona... olé. ainda que lisboa tenha o seu encanto...
baci
Aquelas nuvens mais parecem o genérico dos Simpsons...
O Magrite... gosto do avião que se vê ao fundo!
Muito bom gosto, minha querida! Lindo poema! Linda cidade! beijinhos, minha jóia:)
Continuo a admirar o tempo que dispensas no teu blog. A tua dedicação. Digo isto talvez pq não me consigo dedicar a nada...
Está muito, muito bom este post.
Kisses, baibe...
; )
fantástico! adorei!
Lua, sim, de alguma intensidade, mas como se o que ficasse fossem estes momentos!!(ps.não ficas sozinha!:))
riqui, todos temos problemas com o chamado "perto-longe"!A preguiça supera-nos a maior parta das vezes!olha, dá uma olhadela à lecool e podes seleccionar...
mariana, deu-me um prazer imenso "desconstrui-lo", ih ih ih!:)
lilla, que booom!:)
Bordas, diz o roto ao nu, olha quem fala!:D Bom regresso a terras lusas!
conchita, olá, gostaste?:)vai aparecendo!
ana, Lisboa...e Porto...mistura explosiva!:) benvinda!
carlos, e..hum..descobri que ADORO!:)
zuka, muchas gracias!já expliquei o desenquadranço!Mas será que ninguém reparou na ironia de "fogem desmantelados" "exércitos derrotados" por referência ao Sporting?:D (ih pá, esta inventei-a agora!)
dinis, lindo sim, muito!
piotr, não tem de quê!:)
Raquel, é a tua terra, certo?:)gosto muito!
armando, assim é como se fossem pequenos cartões postais!:)
guevara, não agradeça menina!é pró bem de todos!:D
maria, anda desaparecida? eu gosto de mostrar aos outros o que os meus olhos vêem..ando a preparar outra, me aguardem!:)
ernesto, pois tb andas em viaje!Vou passar sim!
freddy, agora só vês disso, é?és o maior homer que conheço!:D
miguel, seu privilegiado, como consegues ver lá um avião?jeeez, nem eu o topei!:D
carlos, veja uns comentários acima, foi ironia!:D Por acaso julguei-o noutro sítio que não Lisboa!
angela, só me mudaria para Lx por um de dois motivos: amor ou dinheiro!:D vamos ver qual dos extremos a vida me reserva!:D
panamá, ó minha jóia, gostaste?:)
nuno, é simplesmente a vontade de criar, recriar, fazer, moldar, as coisas bonitas!:)
secret, obrigada pelas tuas palavras...
castafiore, fico c-o-n-t-e-n-t-e!:)
Muito bem!
Só tenho um reparo: ir ao cinema a um local daqueles...
;)
Saudações
Amie,
a atracção fatal pela capital de Portugal?;-)
Beijos
Fotos mto fixes e o poema do Campos... GENIAL! Nunca me hei-de cansar de o ler / sentir...
Ultimamente tenho ido quase sempre ao cinema ao Alvaláxia (apesar de ser do Benfica, lol), é um belo cinema, ñ?
*
Atão mas...viestes e não dissestes nada (pode-se usar no plurar?)
pá proxima...
Beijinhos
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