terça-feira, fevereiro 7

M.

. de medo
. de mazel tov
. de morte
. de murro no estômago

. de MUNICH

O ponto de partida é o atentado brutal dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972 e o filme mostra-nos o desenrolar da 'suposta' vingança pelas mortes dos atletas israelitas.
Avner [eric bana] comanda [e bem] a equipa escolhida para assassinar 11 nomes que teriam sido identificados como autores do atentado.
A luta de Israel-Palestina assume contornos de história interminável [eu diria mesmo que é quase como a metáfora do ovo e da galinha, ninguém sabe como começou e onde vai acabar], e Munich terá sido apenas mais uma peça da engrenagem, mas suficientemente forte para assombrar e alimentar, ao mesmo tempo, esta vontade de vingança que transformou [e continua a transformar] estes homens em assassinos mecânicos, sem razão, sem objectivo, com o único propósito de percorrer uma lista para depois voltar para casa.
É perturbante, é assustador, e traz muito pouca esperança [a última imagem do filme, que não vou contar, é isso mesmo que nos diz].
Spielberg [que anda de certezinha a ver os filmes do Fernando Meirelles], apresenta-nos o assunto da forma mais imparcial que consegue, tendo em consideração que a perspectiva que vemos é sobretudo a israelita, há quem o veja um bocado tendencioso.
Para mim, o 'perigo' do filme tem a ver sobretudo com os contornos muito humanos dados às personagens [terrorismo humanista, como já li em algumas críticas]: é a mão que treme à primeira morte, são as dúvidas acerca do que fazem cegamente, as saudades de casa, o medo, a consciência, quando normalmente identificamos estes actos como sendo feitos por gente louca, que não pode ter ponta de sensibilidade humana. Ficam as dúvidas sobre se os terroristas também têm coração. Por estes, quase que se nutre uma simpatia, aliada a um sentimento de justiça a ser feita [cá para mim o sentimento vai-se diluindo ao longo do filme até chegar ao fim e ver a recusa de Ephraim em 'partir o pão' com um dos seus].
O filme está muitissimo bem filmado, as cenas de confronto são empolgantes, e nunca tinha visto Spielberg a captar tão bem a expressividade humana.
Sem querer contar, gostava de realçar uma das minhas cenas preferidas do filme, irónica, claro, que junta debaixo do mesmo tecto o gang israelita e um grupo de muçulmanos...quando disputam o rádio quem ganha?

Qualquer pessoa que diga que é um filme que justifica a mossad, as lutas, as vinganças, ou que vangloria os judeus, não percebeu o mesmo que eu, porque o que se vê é um terrorismo feito de ódio, de vingança cega, não tem governo, não tem partidos, é pura manipulação, engano, mentira, e que ódio só gera ódio [quando matam um líder, criam logo seis tão maus ou piores]
...e pior, ficam os fantasmas!
Surpreendente Spielberg a mostrar-nos que merece ser considerado um dos melhores realizadores da história do cinema.

18 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É verdade... diria que foi o filme que mais gostei de Spielberg. Essa comparação com o Meirelles não é desprovida de todo o sentido, não.
Mazel tov, Amie: bela análise! :)

Saudações

1:52 da manhã  
Blogger Pitucha said...

É um filme que mostra que o ódio gera o ódio e que deixa poucas esperanças para o futuro!
Beijos

7:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bom dia, bem escrito, Amie! Vou ver quando puder, mais um filme para a lista. Recomendo-te (vos) outro, também sobre o interminável e irracional ódio que se pode gerar entre semelhantes: "Intervenção Divina".
http://www.cinedie.com/intervencao_divina.htm

8:44 da manhã  
Blogger 1entre1000's said...

Estou curiosa de facto!!! ;)

10:10 da manhã  
Blogger Zuka said...

Infelizmente não tenho ido muito ao cinema (por mim ia todos os dias), este não vou perder!!
Obrigado pela dica! ;)

10:12 da manhã  
Blogger merdinhas said...

Também fico com curiosidade.
O filme que preferi até hoje do Spielberg foi o da perseguição por um camionista na estrada.
Spielberg é judeu vamos lá a ver a sua capacidade de ser imparcial...

10:33 da manhã  
Blogger Periférico said...

Ainda não vi o filme, mas já li reacções que contradizem esse lado pró israelita de que falas. A comunidade judaica parece que não está a receber bem o filme, pelos vistos não gostam do retrato que Spielberg faz. Li algures penso que no Público, uma opinião de que com este filme Spielber presta um mau serviço ao Sionismo.

Estou curioso para ver o filme, mas muito dificilmente destronará o Império do Sol como o meu filme preferido do Spielberg.

Beijos

10:53 da manhã  
Blogger MIN said...

Tenho que ir ver, depois de ver o match point! Kiss

11:18 da manhã  
Blogger Alexandre said...

Um bocadinho inconsequente, mas very nice indeed.
Imparcial q.b., montagem excelente, fotografia, travellings, campos, contra-campos arriscados, bla bla bla.
Very nice ;)

12:00 da tarde  
Blogger Sukie said...

Tenho curiosade de ver esse filme. vou-me esforçar por fazê-lo. bjs

12:27 da tarde  
Blogger Naked Lunch said...

não gosto do realizador: é demasiado moralista para o meu gosto. gostei da fotografia, mas acho que só vou ver mesmo na TV.

nota: tb esperava mais do match point, como tu.

estou de volta, grande abraço!

2:41 da tarde  
Blogger Folha de Chá said...

Com o tempo que tenho tido para ir ao cinema (ou seja = zero) as tuas críticas e resumos ajudam muito na escolha dos filmes a ir ver. :)

4:51 da tarde  
Blogger Miguel said...

Um post destes merece ser comentado por quem lhe acrescente alguma coisa, o que não é de todo o meu caso. Primeiro porque está muito bem escrito, depois porque revela conhecimentos e uma visão sobre cinema que não são os meus.
Gosto de cinema. Mas não sou o típico amante da 7ª arte. Entendo-o antes de mais como a industria de entretenimento. E aqui, neste filme, pelo que percebo, fica criado uma incompatibilidade comigo. "Não concebo entretenimento que feche as portas à esperança!" É isto. Não que o cinema deva ser assim. Mas é assim que eu me relaciono com ele. Para difícil basta a vida, ás vezes...É simplista e simplório, pois é... mas é assim que sinto. Agora ver o Spielberg, que foi crescendo como realizador ao mesmo tempo que eu como homem (e por isso me apanhou sempre com os filmes certos nas alturas certas)nestas andanças atrai-me. Pena é o tal senão.
Bjs e parabéns pelo post

4:52 da tarde  
Blogger Parrot said...

Amie,

Estava para ir ver no fim de semana passado. Por conselho de uma Blogueira, acabei por ir ao teatro (Oxigénio - Teatro Campo Alegre) e gostei muito.
Este fim de semana vou ao Cinema.....MUNICH

Beijo

6:25 da tarde  
Blogger Duarte said...

Ai as minhas recordações de Munique... Viena, idos de 1987: Madjer e Juary derrotam a temível tropa do Bayern dão ao FCP a sua primeira taça dos campeões!

P.S.: Desculpa, mas não consigo deixar de me comover sempre que se fala do Munique.

10:37 da tarde  
Blogger Schwarz said...

Não sendo grande fã do Spielberg quero ver este filme!

10:57 da tarde  
Blogger izzolda said...

Vou ver se o espreito esta semana para ver se concordo. Mas a tua análise deixou-me bastante curiosa, coisa que até não acontecia antes...beijinhos, amie**

10:08 da manhã  
Blogger ar said...

Não tenho jeito nenhum para críticas de cinema, gosto de ir ver e pronto. Mais fácil dizer do que não gosto mesmo.
Em relação ao Munich, já fui ver e concordo em pleno com a tua crítica, das muitas que li, um tanto ou quanto técnicas e a meu ver um pouco mal dizentes só pq sim, pq fica bem falar mal e pôr defeitos, esta foi a crítica c que melhor me identifiquei e podia ter sido eu a fazer se conseguisse escrever assim.
É um filme que tal como o Fiel Jardineiro do Fernando Meireles, nos faz pensar e muito, ao sair do cinema, e isso por si só, já o faz um bom filme, na minha opinião.
obg.**

10:24 da manhã  

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